Em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (15/06), o Ministério da Saúde informou que decidiu incluir gestantes e crianças entre os pacientes aos quais está recomendada a prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina associada a azitromicina. “Se justifica pois são grupos de risco. A atualização visa garantir oferta em doses seguras para utilização dos pacientes que quiserem receber a medicação”, afirma Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. A orientação é para casos leves de Covid-19.
Nesta segunda, os Estados Unidos decidiram cancelar a autorização para uso da cloroquina e hidroxicloroquina contra o coronavírus alegando falta de evidências científicas. Para a secretária do Ministério da Saúde, os estudos usados como justificativa para a decisão americana são “de péssima qualidade”.
“Seguimos tranquilos, serenos e seguros quanto à nossa orientação. A dos EUA se dava em tratamento de casos graves, e o Brasil já deixou de sugerir em 20/05. Os trabalhos que têm sido publicados mostram que as medicações têm ações efetivas quando usadas precocemente. Não haverá modificação”, afirma a secretária, citando pesquisas feitas na Turquia e Índia.
Mayra afirmou, sem mostrar dados, que a curva de infecções em alguns locais começou a diminuir a partir da publicação da nota de orientação, mas ainda não é possível dizer se o uso da cloroquina tem a ver com a queda.
Hélio Angotti Neto, diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, afirma que a ciência muda muito rapidamente, e que o ministério está atento a novas evidências. Sobre as pesquisas usadas para criticar a posição da pasta a respeito do uso da cloroquina, ele diz que a maior parte dos trabalhos foi feita com pacientes em estado muito grave ou com comorbidades.
“Há de se ter muita cautela e consciência. Vamos estudar com atenção a nota da FDA, vamos observar as pesquisas citadas. Ciência dá segurança para caminhar, mas novas informações chegam todos os dias”, afirmou.

A cloroquina é um dos assuntos mais polêmicos desde o início da pandemia do coronavírusSamir Jana/Hindustan Times/Getty Images

No princípio, o presidente americano, Donald Trump, afirmou que o medicamento, em associação com a azitromicina, um antibiótico, revolucionaria a medicina e seria eficiente contra a Covid-19HAL GATEWOOD/UNSPLASH

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro repetiu o discurso norte-americano e ordenou o aumento da produção de cloroquina no paísMichal Jarmoluk/Pixabay

Porém, estudos científicos não encontraram, até o momento, nenhuma comprovação de que o medicamento é eficaz contra a doençaUnsplash/Divulgação

Há, inclusive, a preocupação de que sua administração sem acompanhamento médico possa causar arritmia cardíacaMyke Sena/Esp. Metrópoles

Mesmo assim, o governo brasileiro decidiu permitir que médicos prescrevam a cloroquina para pacientes leves, moderados e graves, desde que a pessoa seja informada da falta de evidências científicasIstock

Enquanto isso, a OMS faz um estudo com cerca de 3.500 pessoas usando a cloroquina. A pesquisa chegou a ser pausada depois da publicação de um estudo com 96 mil pacientes que encontrou risco aumentado de morte entre os pacientes. Porém, depois de problemas com o banco de dados, o levantamento foi despublicado e a OMS voltou atrásIryna Imago/iStock